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domingo, 13 de outubro de 2013

Ave Maria! Esse é o Meu Grito de Fé!

Há alguns anos eu tento explicar aos meus amigos que moram pelo Brasil afora sobre a grandiosidade e graciosidade do Círio de Nazaré.

Aqueles que não são católicos, são indiferentes, interessam-se apenas pelo conteúdo cultural e histórico do acontecimento. Aqueles que são católicos, maravilham-se pelas histórias contadas, e pelas fotos mostradas de tudo o que acontece, desde as peregrinações à apresentação do Manto, o Auto do Círio, o Arrastão do Círio, as procissões, a multidão, e tudo o que acontece na cidade morena, Belém do Pará.

Fato, é que, por mais que as pessoas venham de outras cidades, estados ou países, não sentirão tudo o que por aqui acontece nas proximidades do segundo domingo de outubro. E aqueles que aqui nasceram, moraram, foram criados, não conseguem ficar longe dessa terra nesse período do ano.

Há sentimentos que nenhuma crônica no jornal ou nos sites de notícias conseguem explicar àqueles que não estão aqui para sentir. Nunca, nada que você ler, ou ver  pela televisão, vai se aproximar do sentimento verdadeiro, de quem enfrenta multidões para chegar e ver de perto a Padroeira dos Paraenses. Eu mesma poderia tentar explicar, mas nem com as palavras mais bonitas, com as canções e poemas mais belos isso seria possível.

Números como os 2,1 milhões de pessoas, que o G1 divulgou em um artigo hoje, aproximam-se, mas não mostram a verdadeira realidade de quantas pessoas vão as ruas com sua fé, acompanhar a nossa mãe, Nossa Senhora de Nazaré. Há 3 anos atrás, os números apresentados pela diretoria do Círio foram 2 milhões e meio de fiéis, agora me digam paraenses, vocês acham que há 3 anos o número de fiéis diminuiu? Eu posso adiantar a resposta: Não. Então aproxime esse número de 3 milhões de pessoas e estaremos perto do número exato.

Desde quando eu era criança, minha família me levava para "ver a passagem da Santa" ou acompanhar a procissão, e assim conhecer o Círio de Nazaré em sua totalidade. Ainda criança, eu não tinha total entendimento do que tudo aquilo significava e representava na vida das pessoas, mas desde aquela época, eu já me emocionava ao ver a Berlinda toda ornada com lindas flores, trazendo a mais bela flor em seu interior, navegando e abençoando naquele mar de gente. Posso me lembrar como se fosse ontem, da noite em que não apenas esperamos a Santa passar, mas como acompanhamos a transladação. Naquele ano, chegamos perto da corda, e eu vinha tomando uma latinha de fanta laranja, e acompanhando com o olhar o sofrimento daqueles que pagavam suas promessas, puxando a corda, então eu soltei da mão do meu pai, fui bem pertinho de um rapaz que estava na corda e dei a minha fanta pra ele, e depois voltei pra perto do meu pai. Eu tenho certeza que aquele rapaz nunca se esqueceu de mim.

Alguns anos depois, já adolescente, eu já entendia e já vivia tudo aquilo o que o Círio envolve, e fiquei muito feliz em poder me dedicar à trabalhar para que o Círio aconteça, naquele ano, eu fui com a minha turma do colégio, levando uma das barcas dos milagres, e recolhendo durante todo o percurso as velas e homenagens em cera que os fiéis romeiros levavam em procissão, agradecendo por uma graça alcançada. No ano seguinte eu fui novamente.

Poucos anos depois eu tive complicações com minha saúde: Eu trazia comigo um cisto de 7cm de DIÂMETRO nos ovários, e havia o risco dele se romper dentro de mim e me trazer complicações maiores, como uma infecção generalizada, a infertilidade, entre outras. A média me deu duas alternativas. A primeira: faríamos uma cirurgia, que poderia ser complicada, e fazer a remoção do cisto. A segundo: Eu faria um tratamento, para a redução do cisto. Se o tratamento funcionasse, faríamos uma cirurgia mais simples para a remoção. Se o tratamento não funcionasse, voltaríamos à primeira alternativa.

E no medo, no desespero eu pedi à N.S. de Nazaré que ajudasse meu tratamento a dar certo, e prometi à ela que se desse certo, puxaria a corda da sua Berlinda naquele ano. 3 meses depois do início do tratamento, em uma bateria de exames, eu descobri que meu cisto sumiu. Isso mesmo, ele não reduziu, ELE SUMIU. Em diagnóstico, o médico explicou à minha mãe, que na ocasião me acompanhava, que o remédio jamais faria o cisto desaparecer, que TALVEZ ele ajudasse na redução. Ele perguntou se acreditávamos em milagre, pois estávamos diante de um. Você acredita em milagres? Eu sim. Desde aquele dia, trago no meu coração, que aquele médico era o mesmo rapaz a quem eu havia ajudado há anos atrás, dando a minha latinha de fanta.

E então, naquele ano, no sábado da Transladação, estávamos lá, eu e meu irmão, em frente ao Colégio Gentil, esperando acabar a missa, para eu achar a minha vaguinha na corda e pagar a minha promessa. E assim eu fui, e desde então venho agradecendo à minha mãe, à minha "Nazinha", pelas graças alcançadas. Eu, que naquele primeiro ano fui sozinha com meu irmão, no ano seguinte, tive alguns amigos que se uniram a mim para pagarem suas promessas, e no ano seguinte, mais amigos, e assim por diante.

Neste Círio foi o 6º ano em que, junto com meus amigos, puxamos a tua corda, Mãe (exceto pelo ano em que tive a gripe H1N1 justo no período do Círio). E ontem, eu vi uma senhora que nos olhava na corda com um olhar de dó, de pena, e a vontade que eu tinha era de gritar à ela: "Não, eu não tô sofrendo! Eu trago a alma tão leve e agradecida que não sinto o corpo padecer!" Eu queria que aquela senhora entendesse que as milhares de pessoas na corda, percorrendo os 3,5 km do percurso, ao chegarem na Catedral da Sé, estão em melhor estado de alma do que qualquer pessoa naquela procissão.

É esse o sentimento de um promesseiro na corda, porque vale a pena todo o esforço, todo o sacrifício, porque ao final, a sensação é de graça, de dever cumprido, porque eu trouxe a minha mãe ao destino dela, porque enquanto ela abençoava milhões de pessoas e lares em seu caminho, era eu, meus amigos, as milhares de pessoas que estavam na corda conosco, e as outras milhares de pessoas que, assim como eu quando era criança, nos levam água, criam cordões de isolamento para nossa proteção, a cruz vermelha que trabalha incansavelmente, a polícia militar, a guarda de Nossa Senhora, conduzíamos a Nossa Rainha à sua casa.

Felíz Círio!